Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum - Ano A





A PALAVRA DE DEUS LIBERTA E DÁ VIDA

Primeira leitura (Is 55,10-11)

O contexto desta leitura é o exílio dos israelitas na Babilônia (587-538 a.C). O povo está cansado do exílio e suspira por libertação. Surge então um profeta, o Segundo Isaías, o “Isaías Júnior” (Is 40-56), que anuncia que a libertação está próxima. Mas os anos passam e nada acontece. Daí o povo pergunta: será que a Palavra de Deus é como a palavra humana que promete e não faz?
Segundo o profeta, a Palavra de Deus não falha. É como a chuva e a neve que antes de evaporar fornecem condições de vida à terra, pondo em movimento o ciclo da vegetação e da vida.
A imagem é muito eloqüente, sobretudo se levarmos em conta as condições climáticas de Israel. Durante o período da seca (junho-outubro) tudo se torna árido e a maior parte da vegetação morre por falta de água. Ao iniciar o período da chuva, tudo renasce e volta à vida.
Em 538 a.C., Ciro, rei da Pérsia invadiu Babilônia, libertou os israelitas e permitiu que voltassem à sua pátria. O povo viu em Ciro a mão de Deus. Quem diria que a providência de Deus se serviria de um pagão (Ciro) para libertar o seu povo?
O profeta quer dizer: a Palavra de Deus é eficaz sim, mas não acontece sempre como nós queremos e quando nós queremos. É preciso esperar o tempo de Deus e estar atento para discernir “os sinais dos tempos”.

Segunda Leitura (Rm 8,18-23)

É muito interessante o trecho da carta aos romanos que nos é proposto hoje: de um lado Paulo descreve a triste situação do mundo e do outro oferece o motivo pelo qual devemos manter a serenidade e a esperança.
Paulo pretende corrigir uma visão distorcida da realidade: os romanos se deixavam guiar pela ideia de que somos todos devedores do fatalismo. Paulo afirma que, por causa da morte-ressurreição de Jesus e da efusão do Espírito, todos poderão ter acesso ao projeto de Deus, que é liberdade e vida. Não somos, portanto, escravos do fatalismo. Desde já possuímos os primeiros frutos do Espírito (v.23a).
O Espírito do Ressuscitado, presente no mundo, impulsiona a evolução rumo à sua consumação final. A criação foi entregue ao ser humano que também está em evolução. Em Cristo a humanidade já atingiu o seu estágio final. Quando os homens atingirem a estatura de Cristo, acontecerá o Reino de Deus, uma sociedade do jeito que Deus quer, e então, a criação, junto com o ser humano atingirá o seu estágio final. É, sem dúvida, um tempo muito longo, pois, o que são dois mil anos em comparação com a idade do universo (14 bilhões de anos) e cerca de três milhões da história humana?
Paulo explica aos romanos que ser cristão é viver em tensão para o futuro da humanidade e do universo. Esta tensão se manifesta agora, nos sofrimentos da comunidade, como anseio de libertação (v.18). Manifesta-se também na própria criação, que aguarda a revelação dos filhos de Deus (v.19). A criação e os filhos de Deus sentem constantemente as dores de parto. A natureza e a humanidade estão envolvidas nesse processo de dar à luz o mundo novo. A libertação dos filhos de Deus passa pelo esforço (dores de parto) dos que lutam por um mundo novo e libertado.

Evangelho (Mt 13,1-23)

O contexto do cap. 13 de Mateus é o conflito entre Jesus (o mestre da justiça) e as lideranças político-religiosas do tempo (responsáveis pela injustiça que gera a morte do povo) e também a crise interna das comunidades de Mateus diante da difícil expansão da Palavra, e um certo relaxamento. Como conciliar a presença do Reino de Deus com os fracassos e conflitos?
Para responder, Jesus apela para a parábola da semente para dizer que acontece com a pregação da Palavra de Deus o que acontece com o semeador que sai a semear: é fácil de entender a parábola porque todos sabem que a semente possui em si todos os germes da vida, mas acontece que alguma semente cai em terra batida (ou asfalto), outra em terra superficial, outra ainda entre espinhos, e, enfim, tem aquela que cai em terra boa, macia e fértil.
Jesus quer dizer, nada de desanimar, é assim mesmo! Então, importa semear sempre, porque a semente que cai em terra boa compensa as perdas.
 A interpretação da parábola (obra dos catequistas da comunidade primitiva) apresenta as dificuldades que a Palavra de Deus encontrava nas primeiras comunidades cristãs e que encontra também nos dias de hoje. A reduzida penetração do Evangelho no coração dos homens, a escassez dos frutos não depende nem da semente nem do semeador, mas da qualidade da terra.
Em primeiro lugar há o coração duro, como a terra batida de uma estrada: não permite à palavra de Deus penetrar. Isto acontece para quem escuta o Evangelho, sem entendê-lo ou sem aceitá-lo. Vem em seguida o coração inconstante, que se entusiasma com facilidade, mas depois de pouco tempo volta a ser o que era antes. É como uma pedra coberta com uma leve camada de terra. A semente até germina, mas logo seca.  Há também o coração inquieto que se agita por causa dos problemas deste mundo, que corre atrás do dinheiro e outras coisas. Estas preocupações são como o “mato” ou as ervas daninhas, que sufocam a mensagem do Evangelho. Por fim, há o coração bom no qual o Evangelho produz frutos em abundância.
Estas classificações valem também para os membros de nossas comunidades eclesiais. Mas é melhor não perder tempo com elas porque as quatro qualidades de terra se encontram, mais ou menos, em cada um de nós. Em cada um de nós há terra batida, espinhos, pedras e também terra boa. Trata-se de tomar consciência e de melhorar o terreno (que é o nosso coração) para que a palavra de Deus possa produzir frutos.
Porque afinal Jesus fala em parábolas? É o assunto tratado nos versículos, aliás difíceis,10-17. Tendo chegado à metade de sua vida pública, Jesus faz um balanço e constata que bem poucas pessoas aceitaram a sua mensagem.
Deve-se estranhar este fato? Não, afirma Jesus. Nem os profetas do AT eram ouvidos. No tempo de Isaías, por exemplo, o povo tapava os ouvidos para não escutar a palavra de Deus e endurecia o seu coração para não se converter (vv. 14-15).
Eis, portanto, a razão que leva Jesus ao recurso das parábolas: é uma outra tentativa que ele faz, é um método novo que ele usa para desbloquear a situação. Julga que, com esta linguagem concreta, talvez possa abrir uma brecha nos corações dos seus ouvintes.
A parábola é um jogo sutil de comunicação. Não é propriamente um ensinamento, mas uma interpelação: obriga as pessoas a descobrirem o sentido oculto, obriga a pensar, a refletir, a cair em si, e pode, portanto, conseguir provocar a conversão.
Nos versículos 16-17 Jesus proclama bem-aventurados os que desde agora veem e entendem, ou seja, fizeram o discernimento e superaram a crise, o risco e o fracasso. Estes são mais felizes do que os profetas e justos que ansiaram por este momento.
Profetas e justos são duas dimensões do povo de Deus e ambas fazem pensar num único tema: a justiça. De fato, a busca da justiça foi a mais importante causa dos profetas. Em Jesus essa causa chegou ao ponto mais alto. E são felizes os que se comprometem fielmente com a causa da justiça.



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