Jesus Ressuscitado, testemunhado pelos
cristãos que se amam.
Primeira
Leitura (At 8,5-8.14-17)
A primeira comunidade cristã estava
sediada em Jerusalém, até que um acontecimento dramático sacudiu a jovem
Igreja: a perseguição contra os cristãos de origem grega (cf.
os “ helenistas” da 1ª leitura do domingo passado), à frente
dos quais estava o diácono Estêvão que foi apedrejado até a morte pelos judeus.
O motivo da perseguição era que os cristãos acusavam os judeus de terem
assassinado a Jesus, o Messias, e que Deus se colocara do lado dele
ressuscitando-o dos mortos. E ao mesmo tempo começavam a abandonar o templo,
celebravam a liturgia nas casas e ensinavam que a salvação consistia em
confessar que Jesus era O Senhor.
Por causa dessa perseguição, os
cristãos se dispersaram e com isso a Igreja se expandiu por outras cidades. É
como se diz: há males que vem para o bem. Por onde os cristãos perseguidos
passavam, anunciavam a mensagem e a ressurreição de Jesus.
Modelo de evangelizador
foi Felipe, um dos sete diáconos (8,5; cf.6,5), que anunciou o
evangelho na Samaria que, ao contrário de Jerusalém, recebeu a mensagem com
muita alegria.
Quando a Igreja de Jerusalém tomou
conhecimento do que a Palavra de Deus realizara na Samaria, enviou para lá os
apóstolos Pedro e João para completar a evangelização mediante a oração e a
imposição das mãos. Assim os samaritanos receberam o Espírito Santo. É que bem
no começo o batismo era dado somente em nome de Jesus, pois que esta era a
novidade para os judeus convertidos, isto é, que Jesus era o
Senhor. Só mais tarde que o batismo seria dado em nome da Trindade.
Segunda Leitura (1Pd 3, 15-18)
Pedro exorta os cristãos para não
desanimarem diante da perseguição que começou e que, com maior ou menor
violência, durou mais ou menos 250 anos. Pedro lhes diz que se sofrem pro causa
da justiça, são felizes (v.14). É a realização da bem-aventurança anunciada por
Jesus (Cf. Mt. 5,10). Não são bem-aventurados pelo sofrimento
em si! O sofrimento não faz ninguém feliz. E mais: não é verdade que Deus ama o
sofrimento! São bem-aventurados por causa da motivação profunda que anima sua
luta: a justiça que visa criar o Reino de Deus, o projeto de Jesus. Eles são
felizes porque estão certos!
Pedro diz aos cristãos que não devem
ter medo dos que os consideram subversivos e por isso os arrastam aos
tribunais. Pelo contrário, devem “santificar em seus corações o Senhor Jesus
Cristo”, ou seja, reconhecer de coração que o único Senhor é Jesus (Cf. a
profissão de fé de Tomé, só Jesus é Deus e Senhor, César não é
nem Deus nem Senhor).
Pedro diz ainda que os cristãos devem
estar preparados para dar as razões da sua fé. Daí a importância de uma fé
madura e esclarecida que é uma das razões deste blog... Mas, acrescenta Pedro,
que esta explicação não seja feita com palavras duras ou ofensivas, mas, pelo
contrário, com palavras suaves e imbuídas de um grande respeito pela opinião
alheia. Só assim poderão criar disposições favoráveis no coração daqueles que
os agridem, para aceitar a verdade (vv.16-17).
Evangelho (Jo. 14,15-21)
O evangelho de hoje é continuação
daquele do domingo passado. Faz parte dos discursos de despedida,pronunciados
por Jesus durante a última Ceia. Os discípulos estão tristes porque entenderam
que Jesus está prestes a deixá-los.
Jesus promete não deixá-los sós,
sem proteção e sem guia. Vai pedir ao Pai enviar o seu Espírito que
permanecerá para sempre com eles.
Mas quem pode receber este Espírito?
Jesus esclarece antes de tudo (vv.15.17) que o Espírito está reservado aos que
o amam, aos que observam os seus mandamentos, aos que praticam o amor ao
próximo, como ele ensinou. O “mundo” não poderá recebê-lo.
Mas o que será que Jesus entende por
“mundo”? Os que não são discípulos, os que não praticam a nossa religião, ou
que não pensam como nós? Não! De modo algum!
Não será preciso antes reconhecer que
há alguma coisa do “mundo” em cada um de nós? Sim! E como! O “mundo” é aquela
parte do coração do homem na qual ainda reina o mal. É o lugar onde se
depositam os ódios, os desejos de vingança, os maus sentimentos... aquele é o
“mundo” e ali o Espírito não pode entrar.
No evangelho de hoje o Espírito recebe
dois nomes: Paráclito e Espírito da verdade.
O primeiro título, Paráclito,
é um termo jurídico e quer dizer aquele que se coloca ao lado. É
que antigamente não havia advogados: o acusado tinha que se defender sozinho ou
levar testemunhas “de defesa”. Às vezes, embora inocente, a pessoa não
conseguia provar sua inocência. Então, se houvesse na assembléia
alguém estimado por sua lealdade e integridade, mesmo sem dizer nenhuma
palavra, se colocasse ao lado do acusado, este era absolvido. Eis o sentido de paráclito:
aquele que se coloca ao lado...
O sentido deste primeiro título
atribuído ao Espírito é, portanto, o de protetor dos discípulos que estão
passando por momentos difíceis.
Os cristãos que acreditam e se abrem à
ação do Espírito podem contar com a luz e a força necessária para enfrentar a
perseguição que hoje em dia talvez não seja tão cruel e aberta como no tempo
dos primeiros cristãos. Hoje ela se apresenta mais disfarçada em valores
modernos: secularismo (negação de Deus), racionalismo, consumismo, hedonismo. É
uma perseguição mais temível justamente porque sorrateira. O discípulo de Jesus
precisa ficar muito esperto para não se deixar iludir. Daí a necessidade da
oração, meditação, leitura orante da Palavra de Deus, retiros...etc. para, como
diria Jesus, “ viver no mundo sem ser do mundo” (Jo. 17,15-16).
O segundo título é o Espírito
da Verdade.
Todos sabemos por experiência o que
acontece quando uma notícia passa através da boca de muitos: acaba por ficar
deformada, como diz o provérbio: “o povo não mente mas aumenta”ou ainda: “quem
conta um conto aumenta um ponto”...
Como pode então a mensagem de Jesus
atingir todos os homens até o fim do mundo sem ser alterada? Podemos confiar
que os evangelhos escritos há dois mil anos chegaram até nós inalterados?
O fato é que dois mil anos de História
comprovam a fidelidade da Igreja na transmissão da mensagem de Jesus. Houve,
através dos séculos, padres, bispos e até papas indignos. Nenhum deles, porém,
conseguiu modificar a palavra do evangelho. Isto não tem explicação humana. É
obra do Espírito da Verdade.
Além desta função de preservar a
integridade da Palavra, O Espírito tem também a função de Introduzir os
discípulos na plenitude da verdade.
Não podemos esquecer que os discípulos
de Jesus (os 12) eram gente do interior, um grupo de caipiras analfabetos, com
exceção de Mateus que era coletor, e que, portanto, estavam anos-luz atrás de
Jesus em conhecimento e sabedoria. Por certo levaram um bom tempo para entender
o que Jesus tinha ensinado. Como entender que um crucificado podia ser o
salvador do mundo? Em que sentido Jesus era Deus? Como entender a ressurreição?
Se Deus é um só como fica a situação de Jesus e a do Espírito Santo (a
Trindade)? Só para citar alguns exemplos.
Além disso, durante a história, houve
problemas e ainda hoje os há que não existiam no tempo de Jesus, aos quais a
Igreja deve responder a partir da mensagem de Jesus atualizada
pelo Espírito da verdade. Por exemplo, como integrar a emancipação
da mulher na Igreja? O que pensar da pena de morte? O aborto? Os
anticoncepcionais? Casais de segunda união? Qual a relação entre fé
e política? A Igreja deve se restringir ao espiritual? Jesus foi um
libertador e até disse que a verdade libertaria. Disse também que veio para que
todos tivessem vida. Para tanto ele lutou por uma sociedade justa e fraterna
sem privilégios. Então como fica a situação da Igreja no campo sócio-político?
O que responder aos humanistas e ateus que dizem que a religião aliena e ilude?
Por acaso poderão considerar-se abertos
ao Espírito da Verdade os cristãos que tem medo de tudo o que é novo?
Poderão continuar sempre repetindo as mesmas coisas?
É um pecado contra o Espírito (cf. Mt.
12,31) se opor àquelas inovações que claramente favorecem a vida das pessoas,
que aumentam a nossa alegria e a nossa paz, que ajudam a rezar melhor, que
libertam de crendices e tabus.
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