PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA – ANO A




TENTAÇÕES DE JESUS E DOS CRISTÃOS


Primeira leitura (Gn 2,6-9;3,1-7)

Esta página do Gênesis relata em forma de lenda um fato ocorrido no começo do mundo. De fato, o jardim do Éden nunca existiu, Deus nunca passeou  neste jardim e nunca fez proibições tão ridículas como a de não comer um mamão.
Embora simbólica, a narrativa tem um sentido profundo. D’entre  as muitas árvores frutíferas, do jardim, havia uma, especial, da qual o primeiro casal não podia comer: a árvore do conhecimento do bem e do mal. O sentido da proibição era este: o homem não tem o direito de decidir o que é bem e o que é mal. É um direito que só a Deus pertence. Quando o homem infringe este direito ele se destrói, perde a sua identidade,  envereda por caminhos alienantes e desfigura a imagem de Deus segundo a qual foi criado.
Aí está o pecado: não aceitar ser criatura. Não depender de Deus para decidir o que é bem e o que é mal. Quando abre os olhos, o homem percebe que o recusar-se a depender de Deus o conduziu muito para baixo, envergonha-se de si mesmo,  sente-se nu, um não-homem (viver nus é a condição dos animais.)
A consequência do pecado é a maldição. Não é que Deus, tomado pela ira, castigue o homem (Deus não faz isto, ele somente salva!); é o próprio homem que, praticando o mal, se castiga: acaba com o seu casamento, com o seu emprego, com seu namoro ...etc.
O pecado de Adão e Eva é um símbolo do que acontece todos os dias, para todos  os homens, quando se deixam guiar por sua cabeça oca, e quando não querem dar ouvidos à palavra de Deus.

Segunda leitura (Rm 5,12-19)

É esta uma parte muito importante e até bastante difícil da Carta aos Romanos. A nós interessa destacar o tema central: a contraposição entre Adão e Cristo.
Adão quis ser senhor do bem e do mal e obteve como resultado a morte.
Cristo, ao invés, reconhece sua própria dependência de Deus, sempre foi fiel e obediente ao Pai e se torna Senhor da vida. Todos os que o seguem e o  imitam na obediência serão transformados em justos. Entre estes dois homens nós temos que fazer nossa escolha.

Evangelho (Mt 4,1-11).

O evangelho fala das tentações de Jesus. Par nós é confortador saber que ele foi tentado como nós, mas não pecou (Hb 4,15). Na verdade, as tentações no deserto são um símbolo de todas as tentações que Jesus sofreu em sua vida. Os 40 dias são um símbolo: significam muito tempo.
A primeira tentação se refere à  identidade de Jesus. No batismo ele ouvira a voz do céu dizendo: “Este é meu filho amado, ouvi-o”. Muitas vezes Jesus foi tentado a “verificar’ se de fato era o Filho de Deus. Quando teve fome pode ter pensado: se sou Filho de Deus posso transformar esta pedra em pão....não!, não! eu acredito na palavra de Deus.
No deserto o povo de Deus fora solicitado a recolher o maná só para um dia, porque Deus prometeu que no dia seguinte teria de novo. Muitos não acreditaram e começaram a acumular, e o maná se estragou. Daí a palavra: “Não só de pão vive o homem, mas também de toda palavra de Deus”. Jesus, por sua vez acreditou, acreditou na palavra que tinha ouvido no batismo: “Tu és meu filho...”
 A tentação se manifesta também quando as pessoas dizem: “não é este o filho do José e  suas irmãs não moram entre nós”.?.. as pessoas de Nazaré não confiavam nele...Os fariseus diziam: Mostra-nos um sinal do céu e nós creremos em você.  Será que Jesus não sentiu vontade de mostrar um sinal do céu...Jesus respondeu: esta geração perversa pede sinais, mas não lhes será dado outro sinal senão o do profeta Jonas.
Na cruz a tentação se repete:... “Se és o Filho de Deus, desce da cruz.... Ele é o Rei de Israel, pois desça agora da cruz, e acreditaremos nele..pôs em Deus sua confiança, que Deus o livre agora se o ama”. Humano como era, Jesus pode ter tido a tentação de descer da cruz....Mas se o tivesse feito, teria estragado tudo, teria negado toda a sua pregação.
Na segunda tentação, o diabo sugere a Jesus dar um espetáculo diante da praça do templo apinhada de gente, jogando-se do alto do templo, pois, se fosse Deus segundo o diabo,  nada lhe aconteceria, pois seria “sustentado pelas mãos de Deus.” Grande espetáculo, capaz de suscitar a fé do povo nele. Jesus reage: “Não tentarás  o Senhor teu Deus”.
É diabólico organizar a religião como um sistema de crenças e práticas que dão segurança. Não se constrói um mundo mais humano refugiando-se cada um em sua própria religião. É necessário assumir às vezes compromissos  arriscados, confiando em Deus como Jesus.
Os israelitas exigiam sempre novas provas da presença de Deus e do seu amor. Diferente deste povo Jesus se recusa a pedir sinais. Ele não precisa de provas  para acreditar que o Pai o ama e que está permanentemente a seu lado.
Talvez nos fuja da percepção, mas nós cedemos a esta tentação toda vez que exigimos de Deus sinais do seu amor. Ao dizermos: Senhor, se me amas, ajuda-me a encontrar um bom emprego, um bom resultado no exame, restitui a saúde à minha avó... Aí o milagre não acontece e a nossa fé vacila. Temos que pedir a Deus, isto sim, que nos conceda luz e força para sairmos sempre vencedores, isto é, mais amadurecidos, mais homens.
A terceira tentação se refere ao poder político. O povo de Israel esperava que o Messias o libertasse da opressão romana. Portanto, deveria ser um Messias rico, poderoso, forte, glorioso. O diabo propõe: se me adorares lhe darei todos os reinos da terra. Jesus não entra neste esquema, é humilde, pobre, amigo das pessoas simples, dos pequeninos, dos pecadores. Até os discípulos se escandalizaram quando perceberam que Jesus escolhera o caminho da não-violência. É provável que esta foi a decepção de Judas e o motivo da traição.
Quando Pedro tentou orientar o Mestre para a conquista do poder e não para o dom da vida, foi considerado um demônio: “Afasta-te de mim, Satanás!
  Não é possível impor o poder sobre os   outros sem servir ao diabo. Aqueles que seguem a Jesus buscando poder e glória vivem “ajoelhados” diante do diabo. Não adoram o verdadeiro Deus.



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