AS ÚLTIMAS REALIDADES
Primeira leitura (Dn 12,1-3)
O texto de hoje pertence ao
gênero “apocalipse”. Apocalipse
é um escrito no qual os ensinamentos são transmitidos através de imagens
misteriosas. Surgiu no tempo da perseguição. Não são crônicas de
acontecimentos. A linguagem simbólica é usada para que os perseguidores não
entendam a mensagem. Destina-se a suscitar esperança quando um povo oprimido se
pergunta: quando acabará o sofrimento. Surgiu no tempo do rei perverso e ímpio
Antíoco IV.
Não fala da destruição da Terra, da humanidade, dos seres
materiais. O que está para ceder o seu lugar ao Reino de Deus é o mundo
dominado pelos malvados, pelos violentos pelos injustos. São textos
privilegiados pelas Testemunhas de Jeová que fazem uma deles uma leitura
literal. Os acontecimentos cosmológicos são símbolos da irrupção de Deus.
Quando surgirá o mundo novo? O profeta responde: todos os
justos que dormem no pó da terra despertarão para participar da alegria do
Reino de Deus.
As palavras de esperança contidas nessa leitura não foram
pronunciadas só para os judeus que viveram no tempo do rei Antíoco IV. São
válidas também para todos aqueles que se encontram em situações semelhantes.
A leitura nos ensina que nenhum sacrifício será em vão.
Nenhuma lágrima, nenhuma dor, nenhum sofrimento se perderá. Nossa fidelidade acelera o alvorecer do mundo
novo e nós também participaremos da felicidade do Reino de Deus, porque nem
tudo acabará com esta existência.
Segunda Leitura (Hb 10,11-14)
Desde os tempos mais remotos os homens viviam oprimidos pela
angústia por causa dos próprios pecados e pelo medo da punição divina. Dois
pressupostos errados: o pecado ofende a Deus e Deus castiga. Dizer que o pecado
ofende a Deus significa admitir que o homem tem poder sobre Deus o que é uma
blasfêmia. Outra, se Deus castiga, é medíocre.
Segundo S. Tomas de Aquino o pecado não ofende a Deus senão na medida em
que prejudica a nós mesmos ou ao próximo. É bom lembrar que segundo s. João, a
única maneira de amar a Deus é amar (fazer algo de concreto) para o próximo.
Daí o povo inventou mil maneiras de evitar o castigo de
Deus. Só Jesus Cristo mostrou a maneira
correta de levar uma vida que leva à realização humana. Combateu as forças do
mal até o fim. A sua vida e seu martírio valem para todos os que se solidarizam
com ele. Ele é o Verbo pelo qual tudo foi criado e eticamente ele se
solidarizou com todos os homens. Mas é
preciso que todos se solidarizem com ele assumindo a maneira dele viver. Os
méritos de Cristo não nos atingem de maneira mágica.
Evangelho (Mc 13,24-32)
O evangelho
de Marcos usa uma linguagem apocalíptica. Refere fantasias que surgiram em
torna da palavra de Jesus sore a destruição de Jerusalém. Marcos lembra que
Jesus havia pedido de não se deixar enganar por tais discursos em torno do fim
do mundo.
O verdadeiro problema é outro: trata-se de saber como é que
devem viver no dia de hoje os discípulos, neste mundo. Os antigos achavam que
quando Deus irrompesse no mundo as forças cósmicas se manifestariam como prova
do poder de Deus.
Não se tata de uma descrição pormenorizada dos fatos que
acontecerão no fim do mundo, mas de uma resposta aos graves problemas da
comunidade cristã do tempo que Marcos está escrevendo o seu evangelho. É Uma
época difícil: os cristãos são perseguidos, oprimidos, torturados e condenados
à morte. Para estes cristãos abalados
pela tentação do desânimo, Marcos recorda as palavras de Jesus: o Filho do
Homem não permitirá que eles sejam dispersos. Reuni-los-á não para a prestação
de contas, para o julgamento, mas para a salvação. Nenhum dos eleitos será
esquecido, nenhum deles se perderá.
Vamos tentar descobrir alguns pontos de meditação extraídos
desta primeira parte do trecho.
Inicialmente Jesus adverte para não dar ouvidos a certas
pessoas exaltadas que, de tempos em tempos, aparecem também nas nossas
comunidades, e citando desastradamente algumas frases da Bíblia, como procedem
as testemunhas de Jeová, saem por aí anunciando catástrofe e o iminente fim do
mundo.
Ensina-nos, em seguida, a difundirmos sempre o otimismo ao
redor de nós. O cristão não desconhece os problemas e os dramas no meio dos
quais os homens se debatem, mas não os interpreta como sinais de morte: os vê
como as dores do parto que anuncia o nascimento de uma nova vida.
Num mundo ainda impregnado de tanto ódio, de tantas dores e
lágrimas, as nossas comunidades devem ser sinais de esperança e de fontes de
amor, de alegria, de paz. O medo do fim do mundo nunca convenceu ninguém a
abandonar o pecado e seguir o caminho do bem.
De qualquer modo, ninguém, nem Jesus, só o Pai sabe a hora em que o
Reino de Deus atingirá o seu pleno cumprimento.
As situações de provação na qual se debateram as comunidades
de Marcos se manifestam também hoje. Quantos fracassos, quantas injustiças,
quantos desencantos marcam a nossa vida.
Jesus convida todas essas pessoas que sofrem porque amam a verdade, a
paz, a justiça, a liberdade a não desanimar. “Quando todas estas coisas
acontecerem, levantem a cabeça porque a vossa libertação está próxima” (Lc
21,28). À diferença do pagão, o cristão levanta a cabeça e em cada
acontecimento sabe descobrir um sinal do Filho do Homem que está se
aproximando.
Para o ovo judeu, a destruição do templo, o fim das ofertas e
os sacrifícios, o desaparecimento da casta sacerdotal e das instituições
sagradas da própria religião foram interpretadas como uma catástrofe
irreparável, como o fim do mundo. Na verdade, porém estes acontecimentos
marcaram o início de um mudo novo.
Na época atual também poderíamos sentir-nos abalados defronte
dos cataclismos políticos, econômicos e sociais que se registram em quase todas
as partes.
Assistimos ao desabamento de tantas certezas, de tantas
ideologias, de tantos mitos que julgávamos indestrutíveis. Desaparecem da cena
personagens que julgávamos insubstituíveis. Até mesmo certos dogmas são
submetidos a uma releitura e a uma reinterpretação, certas práticas religiosas
que pareciam indispensáveis e
imprescindíveis revelam-se ultrapassadas e emboloradas, foram válidas para a
sua época, mas devem ser abandonadas.
Não é o fim da fé, mas uma renovação para que ela possa continuar a
iluminar a vida moderna.
Comentários
Postar um comentário