Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum – Ano B




AS ÚLTIMAS REALIDADES

Primeira leitura (Dn 12,1-3)
O texto de hoje pertence ao gênero “apocalipse”. Apocalipse é um escrito no qual os ensinamentos são transmitidos através de imagens misteriosas. Surgiu no tempo da perseguição. Não são crônicas de acontecimentos. A linguagem simbólica é usada para que os perseguidores não entendam a mensagem. Destina-se a suscitar esperança quando um povo oprimido se pergunta: quando acabará o sofrimento. Surgiu no tempo do rei perverso e ímpio Antíoco IV.
Não fala da destruição da Terra, da humanidade, dos seres materiais. O que está para ceder o seu lugar ao Reino de Deus é o mundo dominado pelos malvados, pelos violentos pelos injustos. São textos privilegiados pelas Testemunhas de Jeová que fazem uma deles uma leitura literal. Os acontecimentos cosmológicos são símbolos da irrupção de Deus. 
Quando surgirá o mundo novo? O profeta responde: todos os justos que dormem no pó da terra despertarão para participar da alegria do Reino de Deus.
As palavras de esperança contidas nessa leitura não foram pronunciadas só para os judeus que viveram no tempo do rei Antíoco IV. São válidas também para todos aqueles que se encontram em situações semelhantes.
A leitura nos ensina que nenhum sacrifício será em vão. Nenhuma lágrima, nenhuma dor, nenhum sofrimento se perderá.  Nossa fidelidade acelera o alvorecer do mundo novo e nós também participaremos da felicidade do Reino de Deus, porque nem tudo acabará com esta existência.

Segunda Leitura (Hb 10,11-14)
Desde os tempos mais remotos os homens viviam oprimidos pela angústia por causa dos próprios pecados e pelo medo da punição divina. Dois pressupostos errados: o pecado ofende a Deus e Deus castiga. Dizer que o pecado ofende a Deus significa admitir que o homem tem poder sobre Deus o que é uma blasfêmia. Outra, se Deus castiga, é medíocre.  Segundo S. Tomas de Aquino o pecado não ofende a Deus senão na medida em que prejudica a nós mesmos ou ao próximo. É bom lembrar que segundo s. João, a única maneira de amar a Deus é amar (fazer algo de concreto) para o próximo.
Daí o povo inventou mil maneiras de evitar o castigo de Deus.  Só Jesus Cristo mostrou a maneira correta de levar uma vida que leva à realização humana. Combateu as forças do mal até o fim. A sua vida e seu martírio valem para todos os que se solidarizam com ele. Ele é o Verbo pelo qual tudo foi criado e eticamente ele se solidarizou com todos os homens.  Mas é preciso que todos se solidarizem com ele assumindo a maneira dele viver. Os méritos de Cristo não nos atingem de maneira mágica.

Evangelho (Mc 13,24-32)
O evangelho de Marcos usa uma linguagem apocalíptica. Refere fantasias que surgiram em torna da palavra de Jesus sore a destruição de Jerusalém. Marcos lembra que Jesus havia pedido de não se deixar enganar por tais discursos em torno do fim do mundo.
O verdadeiro problema é outro: trata-se de saber como é que devem viver no dia de hoje os discípulos, neste mundo. Os antigos achavam que quando Deus irrompesse no mundo as forças cósmicas se manifestariam como prova do poder de Deus.
Não se tata de uma descrição pormenorizada dos fatos que acontecerão no fim do mundo, mas de uma resposta aos graves problemas da comunidade cristã do tempo que Marcos está escrevendo o seu evangelho. É Uma época difícil: os cristãos são perseguidos, oprimidos, torturados e condenados à morte.  Para estes cristãos abalados pela tentação do desânimo, Marcos recorda as palavras de Jesus: o Filho do Homem não permitirá que eles sejam dispersos. Reuni-los-á não para a prestação de contas, para o julgamento, mas para a salvação. Nenhum dos eleitos será esquecido, nenhum deles se perderá.
Vamos tentar descobrir alguns pontos de meditação extraídos desta primeira parte do trecho.
Inicialmente Jesus adverte para não dar ouvidos a certas pessoas exaltadas que, de tempos em tempos, aparecem também nas nossas comunidades, e citando desastradamente algumas frases da Bíblia, como procedem as testemunhas de Jeová, saem por aí anunciando catástrofe e o iminente fim do mundo.
Ensina-nos, em seguida, a difundirmos sempre o otimismo ao redor de nós. O cristão não desconhece os problemas e os dramas no meio dos quais os homens se debatem, mas não os interpreta como sinais de morte: os vê como as dores do parto que anuncia o nascimento de uma nova vida.
Num mundo ainda impregnado de tanto ódio, de tantas dores e lágrimas, as nossas comunidades devem ser sinais de esperança e de fontes de amor, de alegria, de paz. O medo do fim do mundo nunca convenceu ninguém a abandonar o pecado e seguir o caminho do bem.  De qualquer modo, ninguém, nem Jesus, só o Pai sabe a hora em que o Reino de Deus atingirá o seu pleno cumprimento.
As situações de provação na qual se debateram as comunidades de Marcos se manifestam também hoje. Quantos fracassos, quantas injustiças, quantos desencantos marcam a nossa vida.   Jesus convida todas essas pessoas que sofrem porque amam a verdade, a paz, a justiça, a liberdade a não desanimar. “Quando todas estas coisas acontecerem, levantem a cabeça porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21,28). À diferença do pagão, o cristão levanta a cabeça e em cada acontecimento sabe descobrir um sinal do Filho do Homem que está se aproximando.
Para o ovo judeu, a destruição do templo, o fim das ofertas e os sacrifícios, o desaparecimento da casta sacerdotal e das instituições sagradas da própria religião foram interpretadas como uma catástrofe irreparável, como o fim do mundo. Na verdade, porém estes acontecimentos marcaram o início de um mudo novo.
Na época atual também poderíamos sentir-nos abalados defronte dos cataclismos políticos, econômicos e sociais que se registram em quase todas as partes.
Assistimos ao desabamento de tantas certezas, de tantas ideologias, de tantos mitos que julgávamos indestrutíveis. Desaparecem da cena personagens que julgávamos insubstituíveis. Até mesmo certos dogmas são submetidos a uma releitura e a uma reinterpretação, certas práticas religiosas que pareciam   indispensáveis e imprescindíveis revelam-se ultrapassadas e emboloradas, foram válidas para a sua época, mas devem ser abandonadas.  Não é o fim da fé, mas uma renovação para que ela possa continuar a iluminar a vida moderna.

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