Primeiro Domingo do Advento - Ano B



LIBERTAÇÃO: DOM E COMPROMISSO

Primeira leitura (Jr 33,14-16)
O povo hebreu passou 50 anos no exílio de Babilônia. A partir de 530 a.C. Começaram a voltar. Para sua decepção encontraram a cidade de Jerusalém em ruínas. Sua terra se transformara num antro de chacais (Jr 10,22), ao seu redor só apareciam sinais de morte e de destruição  deixados pelos ferozes soldados da Babilônia.
Para animar o povo, o profeta Jeremias recorda as promessas que Deus  fizera a seu povo: na família de Davi surgirá um rebento santo que estabelecerá a paz e a justiça na terra (v.15-16). Muitos israelitas esperavam uma intervenção espetacular de Deus. Mas como Deus não é um Deus intervencionista, caberia ao povo reconstruir a cidade e o país.
O “rebento de Davi” já chegou, mas o mundo de paz e justiça ainda não chegou.  As forças de morte que Jesus procurou combater e eliminar continuam minando a vida das pessoas: a vida sempre ameaçada, morte infantil (70.000 crianças morrem de fome por dia), corrupção, desigualdade social: abismo entre ricos e pobres, falta de trabalho, drogas etc.
A mensagem de Jesus, o “rebento de Davi” é uma semente que é preciso ser cultivada, obra que cabe à Igreja, continuadora da obra de Jesus. A Igreja, infelizmente, não tem a coragem profética de Jesus que se envolveu profundamente na vida social do seu tempo, combatendo as forças de morte: os anciãos (poder econômico), os sacerdotes (poder político), os escribas (poder ideológico). Além disso, combateu uma religião ritualista, opressora e alienante. Por tudo isso foi condenado à morte. Morreu porque levou seu profetismo até o fim. Infelizmente a Igreja abandonou o profetismo e prega um Jesus que agrada todo mundo; não forma discípulos nem seguidores e também não incomoda ninguém. O movimento “Jesus” que no início se chamava “O Caminho” tornou-se uma religião...

Segunda leitura (1Ts 3,12-4,2)
As  primeiras comunidades esperavam a segunda vinda do Senhor para logo. Por isso S. Paulo pede ao Senhor que  faça crescer ainda mais o amor recíproco entre os tessalonicenses, pois é este o caminho que conduz à santidade e é a única maneira de se manter vigilante para a vinda do Senhor (v.13). Para nós, o advento é uma preparação  para acolher melhor o Senhor em nossa vida.

Evangelho (Lc 21,25-28.34-36)
O texto de Lucas em  questão é um apocalipse. O gênero literário apocalítico não quer falar de coisas que irão acontecer num futuro remoto ou  próximo. É um modo misterioso de falar sobre as coisas do tempo presente. É uma linguagem para tempos difíceis, cuja finalidade é animar as comunidades para a denúncia profética e a resistência diante de tudo o que se opõe ao projeto de Deus.
É próprio da apocalíptica traduzir, por meio de sinais grandiosos, a presença do Filho do Homem na história.
Ao escrever o evangelho, Jerusalém já estava destruída. Mas esta destruição não é o fim do projeto de Deus. O cristianismo tem um caminho aberto pela frente. Lucas não pretende instruir sobre o final dos tempos, estes já começaram com a encarnação ,morte e ressurreição de Jesus. É aqui, em nossa história cheia de conflitos que somos chamados a levantar a cabeça e ficar de pé, pois nossa libertação está próxima, ou seja, está em curso, pois o Cristo, tendo vencido as forças da morte, está vivo e virá para nos salvar definitivamente.
É próprio da apocalíptica traduzir, por meio de sinais grandiosos, a presença do Filho do Homem  na história. Os vv.25-28  mostram alguns desses sinais no sol, na lua e nas estrelas. No Antigo Testamento os abalos cósmicos são prenúncio da novidade que Deus vai criar. Algo de completamente novo está para acontecer.
A vinda do Filho do homem, esperada para logo pelos antigos, é descrita no v. 27. Sua vinda é marcada pelo julgamento dos que se opõe ao projeto de Deus (vv.25b-26). Quem são os que verão o Filho do homem: os que se opuseram a ele e aos discípulos, aos quais foi confiado o projeto de Deus.
Com estas imagens estranhas, baseadas em catástrofes cósmicas, o evangelista pretende afirmar que os inimigos do projeto de Deus (as nações) vão perdendo, por força do testemunho das comunidades cristãs, as máscaras que ocultavam a injustiça e a perversidade da sociedade estabelecida. A vinda do Filho do Homem, portanto, não é algo que se deva esperar passivamente. Pelo contrário, é já uma presença, cuja manifestação depende do testemunho dos cristãos.
“Quando estas coisas começarem a acontecer, fiquem de pé e levantem a cabeça, porque a libertação está próxima. Trata-se do resgate que Cristo  pagou com seu sangue. Contudo o processo de libertação continua mediante a prática da justiça e o esforço para criar a humanidade de acordo com o projeto de Deus. Isso é tarefa dos discípulos. Ao dar continuidade ao processo de libertação, os cristãos enfrentam os conflitos e perseguições dos que não desejam que as coisas mudem. Nesse combate, o Filho do Homem é nosso aliado e juiz. Ele declara inocentes os que lhe forem fiéis, e lhes dá vitória.
Os vv. 34-36 falam da vigilância no sentido de discernimento do que leva ou não ao projeto de Deus. Para Lucas é mediante a lucidez, o senso crítico em relação à sociedade é que as pessoas vão descobrindo a presença do Deus que age conosco e em nosso favor. Por isso fiquem sempre de pé e rezem para ter força.. Não se trata de um apelo “devoto” e “espiritual”.
 Existe uma forma de rezar que é ingênua e infantil, que afasta da realidade ,pois, mais do que para o céu, está voltada para as nuvens. A oração autêntica, porém, aproxima de Deus e conduz a um compromisso corajoso com o próprio homem. É um estímulo para zelar pelos irmãos que vivem nesta terra; não cria ansiedades por aquilo que acontecerá no fim do mundo, mas transmite sensibilidade às angústias e aos dramas dos que estão ao nosso lado.

Comentários