VOCAÇÃO E
MISSÃO PROFÉTICAS DO POVO DE DEUS
Primeira leitura (Am 7,12-15)
Estamos por volta do ano 700 A.C. O rei Jeroboão II, que sucedeu
a Salomão, provocou em Israel um verdadeiro “milagre econômico”: o comércio
florescia, as minas de cobre no Sinai em pleno funcionamento, novas técnicas
agrícolas... E a religião? Os santuários repletos de fiéis. Até o rei era, à
sua maneira, um homem muito religioso.
Quando tudo parecia bem, entra em cena um “desmancha
prazeres”, o profeta Amós, um pastor de
Técua, uma cidade da Judéia, que começa a pronunciar palavras de fogo
contra o rei, contra a religião, contra as classes dominantes, contra os
latifundiários, contra os comerciantes, porque se deu conta que a grande
prosperidade foi atingida ao preço de injustiças inaceitáveis. Ele arremete
contra o luxo: os ricos vivem em palácios esplêndidos, “palácios de verão”, “casas
de marfim”; banqueteiam-se com iguarias finas e passam de festa em festa
(6,1-7). Exploram os pobres, oprimem e
maltratam os humildes, falsificam as balanças, vendem o pobre por um par de
sandálias; as “grandes damas” gastam o seu tempo em orgias e banquetes (Am
4,1-4).
E a religião? É só mentira, aparência, formalismo. Para deus
não interessam as orações, os cânticos o incenso e as festas: ele quer que se
acabe com as desigualdades escandalosas, com a opressão, com as injustiças
(5,21-24).
Amós denuncia com coragem esta situação, condena o rei e seu
profeta Amasias, profetiza a morte de Jeroboão e o fim de seu reino que será
destruído pelos Assírios.
Amasias e os outros profetas que estavam a serviço do poder
eram bem pagos. Já Amós era um pobre pastor que ganhava a sua vida com o seu
rebanho.
Os pregadores de hoje têm em Amós um exemplo: como ele, ser
livre e não vender sua palavra por qualquer recompensa material.
Segunda leitura (Ef 1,3-14)
O tema da segunda leitura é a bênção. A bênção é a forma mais
característica da oração judaica. É uma ação de graças por benefícios
recebidos. Mesmo quando se trata de pedir algo, a linguagem é esta: “Bendito és
tu, Senhor nosso Deus, tu que dás a cura, tu que dás o perdão, tu que dás todos
os dons, concede-nos...”
No trecho de hoje encontramos uma destas “bênçãos” que os
cristãos das primeiras comunidades costumavam cantar durante as celebrações
litúrgicas. Ele nos deu a vida, idealizou um plano de salvação e decidiu que
todos os homens formassem uma só pessoa em Cristo e fossem introduzidos em sua
família.
Da mesma forma que os primeiros cristãos, nós também somos
convidados a entoar esse hino de bênção, não obstante todas as adversidades
porque sabemos que Deus está conosco.
Evangelho (Mc 6, 7-13)
Na primeira leitura encontramos dois personagens: Amasias, o
sacerdote de Betel, regiamente remunerado porque estava a serviço do rei,
repleto de favores e privilégios. E, de outro lado, Amós, o pastor rude e
pobre.
Amós é pobre, mas independente: pode falar o que pensa porque
não tem nada a perder, não tem interesses escusos a defender, não deve nada a ninguém.
“Pobres para ser livres” poderia ser o lema que resume as
condições que Jesus estabelece para os arautos do evangelho. Desapegados de
tudo, devem reproduzir a figura d Amós, não a de Amasias.
Todos os apóstolos são chamados, sem excluir ninguém, são
enviados dois a dois, não cada um por própria conta: a religião deve ser vivida
em comunidade; a evangelização não pode ser propagada por própria conta,
seguindo as próprias inspirações, ou iniciativas pessoais. Quem anuncia evangelho deve estar em sintonia
com os irmãos da sua comunidade. Os
discípulos devem ir ao encontro dos homens e não esperar que estes venham ao
encontro deles.
Jesus não confere aos apóstolos o poder de comandar, dar
ordens, de emanar ordens coercitivas; apenas lhes confere o domínio sobre os
“espíritos imundos”: todas as forças do mal, as forças que provocam doenças,
que suscitam maus sentimentos, que originam opressões, violências, injustiças.
Na segunda parte do evangelho (vv.8-9) são dadas as
instruções sobre o “equipamento” dos mensageiros do evangelho: Uma só túnica,
um só par de sandálias, um cajado e nada mais.
O cajado: Mateus proíbe o uso do cajado, já Marcos o permite,
porque o cajado é também símbolo de poder, para a exemplo de Moisés realizar a
obra da libertação do homem dos “espíritos imundos”.
“Nem comida, nem alforje, nem dinheiro...” Jesus não despreza
os bens deste mundo, não apresenta a miséria como um ideal de vida, mas alerta
para o perigo de nos deixarmos conduzir pela posse dos bens materiais.
Ao longo dos séculos a Igreja pagou um preço muito elevado
por causa de alianças, de compromissos, de conchavos políticos com governos que
lhe ofereciam privilégios, favorecimentos, garantias. Pagou-se com a perda da
própria liberdade, da própria autônoma.
Na terceira parte se lê: “Ao entrardes numa casa, permanecei
ali até a hora em que deixardes aquela cidade” (v.10). Visitar uma única família? Não. Poderia
acontecer que após uma primeira hospedagem apareçam outras melhores. Jesus
recomenda que se fique na primeira como testemunho de vida austera, sóbria,
isenta de qualquer ostentação de luxo.
Comentários
Postar um comentário