JESUS E OS
MARGINALIZADOS
Primeira leitura Lv 13,1-2.45-46)
A Primeira leitura apresenta-nos a legislação que definia a
forma de tratar os leprosos. Impressiona como a partir de uma imagem deturpada
de Deus os homens são capazes de inventar mecanismos de discriminação e de
rejeição em nome de Deus.
O livro do Levítico sacralizava certos “tabus” que interditavam
aos israelitas o contato com determinadas realidades (sangue, cadáver, certos
tipos de alimentos. Se a pessoa entrava em contato com estas realidades
tornava-se impura e indigna de aproximar-se CE Deus. Era uma religião inventada
pelos homens que construíam um Deus à medida do homem e que atuava segundo a lógica
humana injusta, prepotente e criadora de
exclusão e marginalização. Segundo esta
religião o leproso era considerado amaldiçoado por Deus. Era discriminado
social e religiosamente. Não era admitido na assembleia do povo de Deus. Devia
viver afastado da comunidade, possivelmente em cavernas e se alguém se aproximasse
devia gritar “impuro” impuro”.
O evangelho irá demonstrar que Jesus não exclui ninguém e que
todos os homens são chamados a integrar a família dos filhos de Deus.
Segunda leitura (1Cor 10,31-11,1)
A segunda leitura pouco ou nenhum interesse tem para nós, hoje.
No tempo de Paulo os pagãos ofereciam “sacrifícios” (animais) a seus deuses. A
carne era vendida nos mercados. Era carne “consagrada” aos ídolos. Portanto
comê-la era entrar em comunhão com os ídolos. Daí a pergunta: podem os cristãos
comer desta carne? Paulo responde, podem sim, já que os ídolos não existem. Mas
se isto escandalizar alguém é melhor se abster. Respeito e caridade acima de
tudo.
Evangelho (Mc
1,40-45)
Um leproso que, segundo a ideologia oficial da época, era um
pecador e um maldito, ousa aproximar-se de Jesus, contrariando assim as
disposições da lei e, de joelhos, pede a Jesus para ser purificado, isto é,
para voltar a fazer parte da comunidade humana.
Diante de seu pedido Jesus se comove, estende a mão, toca-o e
lhe restitui a saúde. Este contato de Jesus com o leproso torna Jesus impuro.
Mas este gesto demonstra uma inversão total do conceito de Deus que domina as
mentes do povo. O Deus que se manifesta em Jesus é um Deus que não sente repugnância
diante dos leprosos.
No momento de seu batismo e na vida pública Jesus já havia
demonstrado que se sentia bem ao lado de pessoas impuras.
A purificação do leproso significa em primeiro lugar que o
“Reino de Deus” chegou ao meio dos homens e anuncia a irrupção desse mundo novo
do qual Deus quer banir o sofrimento, a marginalização, a exclusão.
A purificação significa também como já dissemos a desmontagem
da teologia oficial que considerava o leproso um maldito e demonstra, pelo
contrário a misericórdia, a bondade e a ternura de Deus.
A purificação do leproso significa finalmente que Deus não
pactua com racismos de qualquer espécie: não há bons e maus, sãos e doentes,
filhos e enjeitados, incluídos e excluídos, muito menos em nome de Deus
O que levou Jesus a violar o preceito da lei que prescrevia
não ter contato com o leproso foi a misericórdia. O que nós sentimos diante do
sofrimento, da injustiça, da miséria, da humilhação de uma pessoa?
Certamente não teremos a coragem de nos aproximar de alguém
que represente um perigo físico ou moral, se não sentirmos por ele o amor de
Cristo.
Tentamos nós inculcar também nos filhos, nos netos, nos
jovens que estamos catequizando, estes sentimentos de amor e de solidariedade?
Consumada a purificação do leproso Jesus recomenda-lhe que
não diga nada a ninguém. Porque isto? É que segundo Mt.11,5 a cura dos leprosos
era uma obra do Messias; assim o gesto de Jesus define-o como o Messias
esperado. No entanto, Jesus não aceita o título de Messias porque pode ser
interpretado de maneira errada, como o rei vitorioso e vencedor esperado.
Jesus, é, sim o Messias, mas o Messias-servo, que veio ao encontro dos homens
para lhes transmitir o projeto salvador do Pai e para os libertar das cadeias
da opressão. O seu caminho passa pelo sofrimento e pela morte.
O leproso deve se apresentar aos sacerdotes “para lhes servir
de testemunho”, isto é, para que os sacerdotes saibam que em Jesus Deus está
presente e que os novos tempos chegaram.
O texto termina dizendo que o leproso começou a apregoar o
que acontecera, apesar do silêncio que Jesus lhe impusera. Marcos quer
provavelmente sugerir que quem experimenta o poder integrador e salvador de
Jesus converte-se necessariamente em profeta e em testemunha do amor e da
bondade de Deus.
Um texto muito antigo, ao narrar o episódio do evangelho de
hoje, põe nos lábios de um leproso esta bonita oração: “Mestre Jesus, tu que
estás na companhia dos leprosos e tomas refeições com eles, sabes que eu também
fiquei leproso; se tu queres, ficarei puro”.
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