“O TEMPO JÁ SE CUMPRIU...CONVERTAM-SE”
Primeira leitura (Gn 9,8-15).
Muitos povos contavam a narrativa de um dilúvio acontecido
nos primórdios do mundo. Também a Bíblia contém o mito do dilúvio (Gn 6,5-9.28).
Por causa da maldade que tomou conta da humanidade, Deus
resolveu destruir os homens e a terra junto com eles (Gn 6,5-13). A narrativa do dilúvio mistura mito, ou lenda com
teologia. O dilúvio não é um desastre provocado por Deus, é somente o símbolo
da ruína que os pecados do homem provocam. É descrito como um castigo porque os
homens de antigamente cultivavam uma religião alienante e primitiva e atribuíam
diretamente a Deus todos os fenômenos da natureza e da história também.
A história do dilúvio nos quer ensinar que Deus não fica
indiferente diante daquilo que os homens fazem. Se eles se enveredam por
caminhos que levam para o mal, ele, como pai, deve intervir. Não para destruir,
mas para criar uma nova humanidade.
Deus nunca se conforma diante do mal e sempre intervém para
corrigir, para reconstruir, para renovar. Do mal provocado pelo pecado ele sabe
fazer surgir uma nova humanidade, à qual promete somente coisas boas e garante
todas as suas bênçãos: “...eu estabeleço a minha aliança convosco e com todo o
ser vivo...nenhum ser vivo será destruído pelas águas do dilúvio” (Gn vv. 9-11).
A aliança é fruto de um amor completamente gratuito. Não é
recompensa para a bondade do homem; mesmo sendo pecador Deus o ama e como seu
Amor o transforma em nova criatura.
A leitura termina com o sinal do compromisso assumido por
Deus :o arco-íris para significar a paz entre o céu e a terra, o abraço entre
Deus e o universo.
Segunda leitura (1Pd 3,18-22)
Nesta leitura Pedro compara o batismo ao dilúvio: A água do
Batismo produz os mesmos efeitos da água do dilúvio: destrói o homem antigo e
faz nascer um homem novo.
O batismo marca o fim do pecado, dos ódios, dos roubos da
embriaguez, dos adultérios, da vida corrupta e faz nascer uma vida nova,
segundo o Espírito.
Essa renovação é possível porque Cristo, o Justo, morreu uma
só fez pelos pecados de todos. É ele que comunica à Igreja o Espírito da vida,
é ele que comunica à água do Batismo a força para destruir dentro de nós o
pecado e a morte e ressuscitar-nos para uma vida nova.
Evangelho (Mc
1,12-25)
A narrativa de Marcos a respeito das tentações de Cristo no
deserto é muito curta: dois versículos apenas: “O Espírito conduziu Jesus no
deserto e ele ali permaneceu durante 40 dias, tentado por Satanás: estava na
companhia dos animais selvagens e os anjos o serviam” (vv.12-13) (melhor do que
isso, só dois disso...).
É estranho que o Espírito, logo após ter descido sobre Jesus
na forma de pomba, o impele para o lugar da tentação. Não se diria que fez uma
coisa louvável. Tentar, para nós, significa “incitar uma pessoa a praticar o
mal” e com certeza Deus não pode fazer uma coisa dessas. Além do mais, no
“Pai-nosso” nós pedimos a Deus: “não nos deixeis cair em tentação”. Não
obstante, na bíblia frequentemente se afirma que Deus submete o homem a provas.
Como se explica isso?
Há na vida tentações que não são instigações para o mal: são
as situações que também o homem justo deve enfrentar, são as horas nas quais
somos obrigados a fazer escolhas e que se transformam em ocasiões favoráveis
para fortalecer a fé.
Quem quer crescer, se aperfeiçoar, purificar-se, revigorar a
própria adesão a Deus, não pode ser poupado dessas provas.
Algo semelhante acontece com os catecúmenos, mesmo depois do
batismo são atingidos por dúvidas, incertezas, angústias preocupações. O
Espírito impele o cristão para o deserto da vida, como fez com Jesus.
A primeira frase do evangelho de hoje: “O Espírito impeliu
Jesus no deserto” não é uma simples informação, mas uma mensagem teológica.
Significa: depois do seu batismo Jesus recebeu a força de Deus (o Espírito) e
começou sua luta contra Satanás.
“Deserto” e “40 dias” não são informações geográficas e
cronológicas. “Quarenta” significa a vida inteira e “deserto” é a morada das
forças inimigas de Deus. Jesus foi tentado durante toda a sua vida, inclusive e
na hora derradeira: na cruz.
Depois de ter narrado que Jesus foi tentado, Marcos
acrescenta dois pormenores muito interessantes: “estava na companhia de animais
selvagens e os anjos o serviam.
Se for uma informação, também nós, por certo, gostaríamos de
fazer esse “retiro”. No entanto, Marcos não está narrando fatos, mas está
usando uma linguagem simbólica.
Os rabinos, interpretando o Gênesis ensinavam que Adão e Eva, no paraíso, eram servidos por
anjos e acompanhados por animais. Com o
pecado, os anjos sumiram e os animais se tornaram selvagens. Os rabinos
ensinavam também que com a vinda do Messias “os animais ferozes teriam saído da
floresta e teriam servido os homens e as serpentes teriam saído rastejando de
suas tocas e teriam se deixado guiar por crianças” (cf. Is 11,6-8).
Com as figuras dos anjos e dos animais Marcos quer colocar em
contraposição as consequência do pecado e aquelas da vitória de Jesus sobre o
mal.
A segunda parte do evangelho deste dia nos relata, em
síntese, toda a pregação de Jesus: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está
próximo. Significa, hoje chegou o momento de mudar o coração e acolher com
alegria o mundo novo, no qual Jesus já entrou com a sua vitória sobre o mal e
no qual todos nós devemos nos deixar introduzir, aceitando o seu evangelho.
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