Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum – Ano A





VIGIAR É PRATICAR A JUSTIÇA
Primeira leitura (Sb 6,12-16).
O livro da Sabedoria é o último livro escrito no Antigo Testamento (+ ou – 50 a.C.). Fala da busca de um sentido para a vida. Quando a Bíblia nos fala da “sabedoria” quer indicar sobretudo a arte de viver bem. No tempo em que ainda não existia a ciência e o método científico da investigação da natureza, sábio era o homem que prudente, que sabia controlar os próprios instintos, que agia com ponderação, que tinha lealdade no falar e no agir que era humilde e modesto.
Este conceito aparece em diversos livros da bíblia: Salmos, Provérbios, Sabedoria, Eclesiastes, Eclesiástico e Cântico dos Cânticos.
Na leitura de hoje o autor fala da sabedoria comparando-a a uma jovem muito bonita a ser conquistada e amada.
O autor não define a sabedoria, deixando que os leitores tirem as suas conclusões. Alguns acham que ela é o próprio sentido da vida que resulta de experiências vitais amadurecidas com o tempo; outros poderão deduzir que é o próprio Deus ou o seu projeto. No livro dos Provérbios lemos que o “início da sabedoria é o temor do Senhor”.

Segunda leitura (1Ts 4,13-18)
As primeiras comunidades cristãs viviam da expectativa de que o mundo iria acabar e que Jesus voltaria logo para estabelecer o seu Reino. Esta expectativa fora criada sobretudo pelos rabinos do tempo de Jesus, impressionados com as inúmeras desventuras que se tinham abatido sobre o seu povo, diante de tantos sofrimentos, humilhações e violências de todos os dias. O próprio Jesus contribuíra pala alimentar essa expectativa (cf. Mt 24).
Em Tessalônica alguns já nem queriam mais trabalhar, achando que as reservas que tinham eram suficientes. Na segunda carta aos tessalonicenses Paulo dirá que “quem não quiser trabalhar que não coma”...
Alguns membros da comunidade estavam preocupados com o destino dos seus parentes falecidos. O que será deles quando Jesus voltar? Paulo responde (vv.15-17) que não haverá alguma diferença entre os que já tenham morrido e os que estiverem ainda vivos na hora da vinda do Senhor: todos serão recolhidos e estarão para sempre com ele, isso porque Jesus venceu a morte, entrou na vida de Deus, e conduzirá com ele todos aqueles que, pelo Batismo, estiveram unidos a ele.
Paulo recorda ainda que diante da morte, os pagãos e os cristãos se encontram em posições completamente diferentes. Os primeiros são os que não tem esperança, portanto se desesperam porque para eles tudo acaba com a morte.
Os cristãos, ao contrário, acreditam na vida eterna, sabem que a vida de Deus, recebida no batismo, não pode ser interrompida pela morte do corpo, por isso eles conservam a serenidade, choram a perda de um amigo, mas não se desesperam como os pagãos.

Evangelho (Mt 25,1-13).
Na parábola de hoje há muitos pormenores extravagantes que nada tem a ver com a mensagem principal. É melhor deixá-los de lado e fixar-nos na mensagem central. Além disso Mateus adaptou a parábola às necessidades catequéticas das suas comunidades. Comecemos pelo sentido provável que a parábola teve quando Jesus a pronunciou.
A festa de casamento em Israel era muito solene e tinha a duração de mais ou menos uma semana. No primeiro dia o marido se dirigia até a casa dos sogros para buscar a mulher e levá-la à própria casa. Para recebê-lo estava presente a esposa acompanhada de suas amigas (as moças “casadouras” do povoado) que, entre danças e cantos, eram encarregadas de acompanhá-la até a sua nova casa, onde era organizada a festa de casamento.
Jesus se serve deste acontecimento muito comum para comunicar um ensinamento seu. Qual?
Tanto o número cinco como a “virgem” são símbolos do povo de Deus. As dez virgens representam o povo de Israel que espera o Messias (o esposo): uma parte deste povo (as cinco virgens prudentes) está preparada para acolhê-lo e entra na comunidade cristã, uma outra parte, ao contrário (as cinco virgens descabeçadas), não presta atenção nos projetos de Deus, é infiel e permanece fora da sala do banquete.
Depois de cinquenta anos, Mateus retoma esta parábola e a adapta aos problemas das suas comunidades.
Dissemos ao comentar a segunda leitura que os primeiros cristãos esperavam com ansiedade a volta do Senhor. Aos poucos, porém, começam a perceber que o Esposo vai demorar. Surgem as primeiras dúvidas, começa o desânimo e muitos até abandonam a comunidade.
Na nova versão, as dez virgens já não simbolizam Israel, mas a Igreja, que espera a volta do seu Senhor, do seu Esposo. Observe-se que na parábola não aparece a esposa, porque ela é a comunidade cristã, representada pelas dez virgens.
Algumas, estão de prontidão, prestam atenção às coisas essenciais; outras, ao contrário, não tem juízo, pensam em tudo menos naquilo que de fato importa: preocupam-se com o vestido, com as jóias, com os perfumes, com o penteado e, por fim, esqueceram-se da coisa mais importante: do azeite.
Acontece também em nossos dias: na nossa comunidade cristã há pessoas que perdem o rumo por coisas banais (dinheiro, as festas, os prazeres...) e não se dão conta de estarem perdendo um tempo valioso, não se lembram dos valores autênticos pelos quais vale a pena comprometer-se. Talvez pensem que no fim da vida poderão consertar tudo. Mas é bom lembrar que uma vida estragada ou mal usada, não se reconstrói no último minuto. Naquela hora ninguém nos poderá emprestar uma parte de sua vida (é este o sentido do azeite que é negado pelas virgens prudentes).
Cada momento é precioso e deve ser usado para o único objetivo que no final dá valor à vida: a compaixão ou as obras de misericórdia (cf. Mt 25,31-46, favor não reparar nas imagens dramáticas usadas por Mateus para sacudir e impressionar... é o método dele...)
O último versículo (v.13) resume a mensagem que Mateus quer que os cristãos das suas comunidades assimilem. Pede-lhes vigilância. O Esposo não virá somente uma vez no fim do mundo ou no fim de nossa vida.
Ele vem ao nosso encontro no grito do pobre, no desespero do marginalizado, no pranto do doente. Naquele que anuncia a paz, naquele que clama por justiça, por amor, por respeito, por igualdade, está presente o Esposo que vem para nos interpelar. Por isso é importante não cochilar e atender ao seu apelo.

Comentários

  1. Que lindo este resumo: É um grito de acorda pra nós! "O último versículo (v.13) resume a mensagem que Mateus quer que os cristãos das suas comunidades assimilem. Pede-lhes vigilância. O Esposo não virá somente uma vez no fim do mundo ou no fim de nossa vida.
    Ele vem ao nosso encontro no grito do pobre, no desespero do marginalizado, no pranto do doente. Naquele que anuncia a paz, naquele que clama por justiça, por amor, por respeito, por igualdade, está presente o Esposo que vem para nos interpelar. Por isso é importante não cochilar e atender ao seu apelo". Obrigada pelo envio...

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  2. "O Esposo não virá somente uma vez no fim do mundo ou no fim de nossa vida."
    É isso aí Padre José!! Assim temos motivos de sobra para ficar espertissimos!;
    Abração
    Edlamar

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