Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum - Ano A


O BANQUETE DA JUSTIÇA E SEUS CONVIDADOS


Primeira leitura ( Is25,6-10a)
Esta primeira leitura pode causar surpresa para muitas pessoas: acostumadas a associar religião com penitência, jejum, sacrifícios; eis que aqui  se fala de comer e beber. Jesus aparece muitas vezes sentado à mesa com pecadores onde rolava certamente um bom vinho, símbolo da alegria. Porque será que a religião foi transformada em algo sério e triste, enquanto a bíblia fala de festa? Jesus começou a sua vida com um banquete (bodas de Caná) e terminou a sua vida com um banquete: a eucaristia.
A Leitura de  hoje fala de um grande banquete que Deus vai organizar um dia,no fim dos tempos.Será o banquete messiânico. O profeta diz que o cardápio será sofisticado: iguarias finas, carnes saborosas e variadas e vinhos finos. É interessante observar que a bíblia sempre descreve o Reino de Deus (a comunhão com Deus) com um banquete. E lembrar que o povo comia uma só vez por dia.... Todos os povos serão convidados: amigos e inimigo; será uma confraternização. A vitória a ser comemorada  será a destruição da morte para sempre porque todas as lágrimas serão enxugadas (v.8). Não se trata aqui da morte física, mas de tudo aquilo que para o homem é morte e derrota.
O banquete será animado com  músicas, cantos e danças. Com a vinda do Messias qualquer situação de “morte” será transformada. Haverá somente alegria, felicidade. Será a festa, o banquete do Reino.

Segunda leitura (Fp 4,12-14.19-20)
Paulo escreve novamente aos filipenses para manifestar sua profunda amizade e gratidão pelo apoio que esta comunidade lhe deu na evangelização ajudando-o a viver na pobreza e na riqueza , na fartura e na fome, na abundância e na indigência (v.12). 
Os que dedicam sua vida à pregação do Evangelho continuam sendo homens sensíveis às ingratidões, como também às manifestações de apreço e de amizade. Sobretudo quem renunciou, por amor ao Reino, à formação de uma família própria, sente profundamente esta necessidade de afeto. Daí o afeto de Paulo pela comunidade dos filipenses.
No fim da carta (v.19) Paulo afirma que Deus ama e protege os seus enviados e recompensará com abundância os gestos de generosidade manifestados em relação a eles ( “quem apóia um profeta terá a recompensa de um profeta”).

Evangelho (Mt 22,1-14)
Este texto trata de mais uma parábola onde comparecem diversos personagens: O grande rei, a esposa, o filho que celebra o casamento, o banquete, os servos, os primeiros convidados, as pessoas recolhidas pelas estradas, a cidade destruída, a veste nupcial.
Estes personagens estão a serviço do Reino de Deus comparado a uma festa de casamento.
O GRANDE Rei é Deus. Ele organiza a festa de casamento de seu filho (JESUS).
A esposa é a humanidade inteira, ou “ a Igreja”. A esposa será bonita,simpática, atraente, muito prendada? Comparada à humanidade talvez não. Entretanto Cristo a ama da mesma forma. Ele sabe que seu amor terá o poder para transformá-la, para deixá-la bonita e atraente.
O banquete representa a felicidade dos tempos messiânicos. Quem acolhe a proposta do Evangelho começa a fazer parte do Reino de Deus e experimenta a alegria mais pura e profunda.
Na Bíblia o Reino de Deus não é comparado a uma capela onde todos rezam, em silêncio e devoção: não é comparado a um daqueles conventos antigos de freiras, onde não se escuta o menor ruído, onde ninguém perturba a meditação e o êxtase das irmãs. Está escrito que é semelhante a um banquete, onde se come e se bebe com os amigos, se dança, se ri, se contam histórias, causos e piadas e todos se sentem felizes juntos.
O banquete eucarístico que celebra a comunhão entre Cristo  e a Igreja deveria deixar os participantes da missa alegres, sorridentes e serenos, o que infelizmente nem sempre acontece.
O banquete está preparado. O anfitrião envia  os servos  a levar o convite aos convidados. Os servos estão divididos em três grupos. Os primeiros dois representam os profetas do Antigo Testamento, até João Batista. Estes cumpriram a missão de preparar Israel para receber Jesus como Messias.. O terceiro grupo representa os apóstolos e todos nós.
Os convidados recolhidos ao longo dos caminhos e pelas praças bons e maus, limpos ou sujos, sem distinção, são os homens do mundo inteiro. Volta aqui o tema muito simpático para Mateus: A Igreja, o povo de Deus, é composto por gente boa e por gente má, é um campo onde encontramos o trigo e a cizânia, é uma rede que apanha todas as espécies de peixes.
Para nós esta parábola é um convite para abrir o coração e as portas das nossas comunidades a qualquer tipo de pessoa, aos pobres, aos marginalizados, a quem é rejeitado por todos.
Os primeiros convidados não entram na festa. Recusam-se  porque não querem largar os próprios interesses,: a lavoura, os negócios(v.5). Não precisam que ninguém lhes ofereça um banquete: têm tudo o que lhes possa garantir uma vida sem problemas. Estão satisfeitos. Representam os guias espirituais de Israel que se sentem satisfeitos com a estrutura religiosa que montaram e que lhes dá segurança.
Os que não são pobres, os que não querem abandonar as próprias garantias materiais e espirituais, que não têm fome e sede de um mundo novo, não entrarão jamais no Reino de Deus, ficarão satisfeitos com as mesquinharias nas quais estão envolvidos.Somente os pobres estão em condições de entender a gratuidade do amor de Deus em relação a eles.
E a destruição da cidade, é um pormenor acrescentado, está fora do contexto, refere-se à destruição de Jerusalém que aconteceu quarenta anos mais tarde.
E a veste nupcial? ´E estranho. Como exigi-la de pessoas  recolhidas pelos caminhos, pelos campos, pelas praças, esfarrapados.... É uma outra parábola, que tem um ensinamento exclusivo. Foi uma “gafe” de Mateus inseri-la aqui, pois estraga tudo....
Pior ainda é o castigo infligido ao homem que não tinha a veste nupcial: são expressões próprias de Mateus que gosta de fazer  “terrorismo pastoral” à semelhança dos pregadores de seu tempo.
Afastemos de nós a concepção de um Deus que castiga. Ele não é assim! Ele não castiga nunca, não castiga ninguém, somente salva.
Até a última frade: “Muitos (isto é, “todos”) São chamados, mas poucos os escolhidos” (v.14) não está relacionada com as duas parábolas precedentes; nelas os eleitos são muitos, quase todos, e poucos (somente um) são rejeitados. 
Estamos diante de uma frase que Jesus pronunciou em outra circunstância. Foi colocada aqui por Mateus para sacudir, com uma frase de efeito, a sonolência e o torpor de alguns cristãos das suas comunidades. Com frequência é interpretada como uma indicação sobre o número limitado de pessoas que entrarão no céu. Aqui, porém, Jesus não está falando do céu, mas do Reino de Deus, no novo mundo para o qual se pode entrar, aceitando a sua comprometedora proposta de vida.  Todos são convidados, mas poucos têm a coragem de dar o passo decisivo. 

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