30 Domingo do Tempo Comum – Ano A




AMAR O POVO É AMAR A DEUS

Primeira leitura (Ex 22,20-26)
Os textos legislativos do Antigo Testamento, sobretudo do Êxodo e do Deuteronômio demonstram uma grande preocupação pelos segmentos sociais mais desprotegidos daquele tempo: os estrangeiros, as viúvas, os órfãos, os pobres e os endividados. Os estrangeiros não têm a proteção do clã, sendo facilmente submetidos a maus tratos e explorados, as viúvas, ao perder o marido, não tem quem as defenda e lhes garanta a propriedade, os órfãos de pai acabam sendo escravizados pelos gananciosos, Os pobres se veem cada vez mais endividados, sem chance de escapar à usura dos que detém o poder e a força; finalmente, os que para não entregar a vida penhoravam seus bens não tem os que os defenda.
Após ter vivido a escravidão no Egito, o povo hebreu, agora livre, queria uma sociedade onde todos tivessem acesso à vida e à liberdade, daí as leis do Deuteronômio em defesa da viúva, do órfão, do estrangeiro, já que Israel também fora estrangeiro, e do pobre (cf. vv.20;22-23;24-26).

Segunda leitura (1Ts 1,5c-10)
Paulo dá graças a Deus que os tessalonicenses acolheram a palavra de Deus com alegria apesar das muitas tribulações e assim se tornaram modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia.
Paulo fala muitas vezes de “tribulação” aludindo com isto às pressões e opressões sofridas por aqueles que se comprometem com o projeto de Deus. A fidelidade a esse projeto provoca conflitos, e os que não querem mudanças sociais procuram a todo custo impedir o avanço da palavra que liberta. Paulo sentiu isso na própria pele, tendo chegado a Tessalônica coberto de feridas e com as marcas da tortura sofrida em Filipos. Apesar dessa aparente fragilidade, os tessalonicenses deram crédito à palavra, tomando Paulo como referência. “Vocês se fizeram imitadores nossos... acolhendo a Palavra... apesar de tantas tribulações.

Evangelho (Mt 22,34-40)
Os fariseus haviam feito um catálogo de 613 mandamentos: 365 proibições (não se deve fazer) e 248 prescrições (é preciso fazer). A Amizade de Deus dependia disso e a graça também. As mulheres tinham sorte, porque eram obrigadas a observar somente as proibições. Jesus falou um dia de “pesos insuportáveis (Lc 11,46), do jugo pesado que oprime, que cansa, que tira a respiração e a alegria de viver (Mt 11,28).
Havia uma discussão sobre qual desses mandamentos era o mais importante. Uns diziam que era o preceito do sábado, outros diziam que o principal era o amor a Deus e ao próximo como pedia o Deuteronômio: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com toda a alma e com todas as tuas forças (Dt 5,6). Todo israelita conhecia bem esta fórmula, porque a recitava duas vezes ao dia: na oração da manhã e na da tarde.
Havia também quem colocasse em primeiro lugar o amor ao próximo. Conta-se que um certo dia um pagão se apresentou a um famoso rabino chamado Hillel e lhe disse: “converter-me-ei se conseguires ensinar-me toda a lei enquanto permaneço ereto num só pé.” Hillel lhe respondeu: “O que não te agrada, não o farás a teu  próximo! Esta é toda a lei: o restante é comentário”. Jesus, por sua vez falou em outra oportunidade: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles:  nisto estão toda a lei e os profetas” (Mt 7,12).
Para dirimir as dúvidas os fariseus perguntaram a Jesus: “qual é o maior mandamento da lei?” Respondeu Jesus:  amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração e toda a sua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas
Algumas diferenças. Onde Hillel diz “não fazer”, Jesus diz “fazer”. Outra diferença: a palavra “próximo” no Antigo Testamento se referia a um membro do próprio povo. Jesus pelo contrário quer que o amor se estenda a todos os homens. Os seus seguidores devem fazer o bem até aos próprios inimigos (Mt 5,43-48). Outra diferença ainda consiste no fato de que Jesus coloca no mesmo plano o amor a Deus e o amor ao próximo.
Amar o próximo é relativamente fácil.  Mas o que significa amar a Deus? Assistir à missa dominical, pagar o dízimo, começar o dia com alguma oração, além disso devoções, cantos, terços, procissões, romarias, solenes celebrações litúrgicas, jejuar, fazer penitências, adoração, louvor.......Mas Deus não é carente, ele não precisa de nada disso. Nós é que precisamos disso para expressar nossa filiação e nossa creaturalidade. É bom lembrar sempre que nós viemos de Deus e caminhamos para ele. A única maneira de amar a Deus é amar o próximo (Rm 13,9 e Gl 5,14). Por aí se vê se alguém ama a Deus. Como dia S. João: como alguém pode dizer que ama a Deus que não vê se não ama o próximo que vê?
 A primeira função da oração é a acolhida do dom de Deus. Não precisamos dizer a Deus o que precisamos, ele o sabe melhor. A segunda função da oração é a partilha da experiência de Deus e a caridade. A terceira função é a ação de graças. E a oração de pedido? Ela não tem a função de mudar o plano de Deus, mas expressá-lo e aceitá-lo.

Comentários

  1. Obrigada Pe. Knob pela homilia... Linda...Tomara que aprendamos a viver o verdadeiro sentido desta lei (Amor a Deus e ao próximo). Penso que seja o único caminho para a ‘Paz e Felicidade’. Visto que vivemos um momento nacional tão difícil, onde acreditar é algo tão complicado, precisamos dar uma chacoalhada em nosso ser, abrir nossos corações e não se perder na caminhada da Fé e da luta pra nos tornarmos seres melhores, por um Brasil melhor, por um mundo melhor...Que não nos tornemos incrédulos e que não percamos o sentido de amar... “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração e toda a sua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5) e Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Que Jesus, o grande mestre, nos ilumine, nos ajude a assimilar de verdade esta lei e a amar de verdade: a Deus, a nós mesmos e ao próximo...

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