Quinto Domingo da Páscoa - Ano A


JESUS: CAMINHO, VERDADE  E VIDA


“Eu sou o Caminho, a Verdade e a vida”. O próprio Jesus apresenta-se como Caminho. Ele não é simples ponto de passagem para a caravana humana. Não é simples encruzilhada, onde as pessoas vindas de todos os horizontes, podem se cruzar. Ele se propõe como Caminho da Vida, como o caminho do futuro.

1ª Leitura (At 6,1-7)
No segundo domingo da Páscoa lemos a narrativa de Lucas elogiando a primeira comunidade de Jerusalém: comunidade fervorosa, unida, “um só coração e uma só alma”...Se fosse mesmo assim seria como um oásis do Reino de Deus. Os comentaristas acham, no entanto, que Lucas coloriu e idealizou um pouco as coisas para apresentar um modelo de comunidade cristã.
A leitura de hoje é prova disso: havia problemas de convivência na comunidade, o que é “normal” até certo ponto, pois que a comunidade não era composta de anjos, nem de santos, mas de homens, pecadores, sujeitos a invejas, ciúmes, incompreensões entre pessoas de mentalidade e cultura diferentes.
A comunidade era composta de dois grupos: cristãos judeus e cristãos helenistas.
Os primeiros nasceram e cresceram na Palestina. Falavam o aramaico e frequentavam as sinagogas onde se lia a Bíblia em hebraico. Estavam muito apegados às tradições de seus antepassados e à lei de Moisés. Eram conservadores.
Os helenistas, pelo contrário, nasceram e cresceram no exterior. Cultivavam valores e hábitos de vida que os cristãos-judeus condenavam como corruptos. Eram muito liberais em relação às tradições e às normas ensinadas pelos rabinos. Falavam o grego, a língua falada em todo o mundo (como o inglês hoje).
Certo dia o conflito explode: os helenistas se queixam que suas viúvas são mal atendidas em comparação com as viúvas dos judeus.
Os apóstolos, então, convocam uma assembleia e propõem a escolha de sete pessoas que gozem da estima e da confiança de todos para que assumam a distribuição dos bens aos pobres. Assim sendo, os apóstolos poderiam se dedicar exclusivamente ao anúncio da Palavra. Assim começou a se formar uma Igreja,como se diz hoje, toda ela ministerial: além dos diáconos há muitos ministérios ou “pastorais” que não é necessário enumerar aqui.

2ª Leitura (1Pd 2, 4-9)
Esta leitura fala de dois tipos de Igreja ou templo. Existe a igreja feita de pedras materiais e existe a Igreja feita de pedras vivas cujo fundamento ou pedra angular é Cristo e os batizados são as pedras vivas. É a comunidade cristã que não precisa necessariamente de um templo material. Este novo templo que substitui o antigo é o “lugar” onde os batizados oferecem junto com Cristo sacrifícios espirituais: o louvor, ação de graças e os diversos serviços ministeriais. Assim todo cristão exerce o seu sacerdócio recebido no batismo.

Evangelho (Jo 14,1-12)
O trecho do evangelho de hoje é tirado do primeiro entre os três discursos de despedida, pronunciados por Jesus durante a última Ceia. São chamados assim porque Jesus dá a impressão de estar ditando suas últimas determinações (tipo testamento) antes de enfrentar a Paixão e a morte.
Alguém poderá estranhar porque a liturgia apresenta estes discursos agora, depois da Páscoa. É que um testamento é dito e adquire sua plena validade somente depois da morte de quem o ditou. Também porque as palavras de Jesus durante a última Ceia são dirigidas aos discípulos de todos os tempos, e o melhor momento para entendê-las é exatamente depois da Páscoa.
Os discípulos estão perturbados e desanimados. É que Jesus acabara de anunciar a traição de Judas (13,18-30) e a negação de Pedro (13,36-38). Além disso, o Mestre anuncia que vai partir, sem que ninguém o possa seguir por ora (13,36). Jesus os consola dizendo que vai preparar um lugar para eles, a fim de que onde ele estiver, eles estejam também. “E vocês conhecem o caminho para ir aonde eu vou” (14,2-4).
Jesus afirma, antes de tudo, que ele deve percorrer um “caminho” difícil e acrescenta que os seus discípulos deveriam conhecer muito bem esse “caminho”, porque já falou dele muitas vezes.
Tomé, porém, ele de novo, responde, em nome de todos: nós não conhecemos esse “caminho” e não conseguimos entender, de maneira alguma, onde o Senhor quer chegar.
Jesus toma de novo a palavra e explica que ele vai percorrer o caminho por primeiro, mas que depois também os discípulos deverão percorrê-lo para chegar lá onde Jesus estará.
Trata-se do caminho para a Páscoa, caminho difícil, porque exige o sacrifício da própria vida. É renunciar a si mesmo e assumir a cruz, a cruz da fidelidade ao projeto de Deus que Jesus pregou e viveu. É este o “caminho” que o discípulo deverá percorrer. Não se trata propriamente de aceitar os sofrimentos como vontade de Deus, mas precisamente, ser discípulo e missionário, o que é muito difícil. Exige muito desprendimento e doação.
Até o Concílio Vaticano II os leigos não eram considerados membros ativos da Igreja; não celebravam a Eucaristia, mas “assistiam”; não celebravam o sacramento da reconciliação, mas iam “receber” a absolvição. Em suma, eram espectadores passivos da atividade da hierarquia. Hoje, finalmente começou-se(!) a entender que todo cristão deve ser ativo, prestar algum serviço à comunidade.
Coloquemo-nos uma pergunta: qual é o percentual dos membros ativos da minha comunidade. Quantos ainda só vem assistir à missa? Há os “desempregados”? Há compromissos que ninguém quer assumir? Há competição para assumir certos cargos?
A segunda parte do evangelho deste domingo está centrada (vv.8-12) na pergunta de Felipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta”. Jesus responde que ninguém pode ver o Pai.Como poderão então os homens conhecê-lo? Há somente uma maneira: olhar para Jesus que é sua imagem perfeita; quem vê a ele, vê o Pai (vv.9-11). Para ver o Pai não é preciso estudar teologia. Basta reparar bem no que Jesus faz, o que ele diz, o que ensina, como se comporta, como ama, a quem ele prefere, quem ele visita, a quem ele abraça, com quem ele toma refeições, a quem escolhe, a quem adverte, a quem defende... porque o Pai também faz assim. Numa palavra: Jesus é de fato a face humana de Deus.

Comentários

  1. Parabéns, linda homilia Padre José. Sim, que Deus nos ajude a imitar Jesus com esse desejo de conhecer o Pai.

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