JESUS É VIDA E
LIBERDADE PARA OS POBRES
Primeira leitura (Zc 9,9-10)
Estamos por volta do ano 323 a.C..
Israel é um povo colonizado, explorado e oprimido por potências estrangeiras.
Não obstante, o povo é chamado a alegrar-se porque o Messias
prometido está para chegar. Outros profetas já haviam anunciado a vinda do
grande rei, do Filho de Davi, do Libertador. Mas Zacarias anuncia que o novo
rei será uma pessoa “humilde, montando um jumento, num potro de uma jumenta”
(v.9).
Como confiar num rei assim? Os outros
reis são ricos, montam em cavalos, tem exércitos, são orgulhosos e arrogantes.
O novo rei fará desaparecer da cidade
qualquer força militar, destruirá todas as máquinas de guerra e de violência.
Mesmo assim será um vencedor. Seu reino se estenderá do Mediterrâneo ao Mar
Morto e do rio Eufrates até os confins da Palestina. Obs. Pela geografia da
época, essas eram as fronteiras do mundo.
Jesus realizará ao pé da letra esta
profecia quando entrar em Jerusalém montando um burrinho. Com este gesto
provará que ele é o rei esperado, aquele que com sua benevolência e o seu amor
conquistará o coração dos homens.
Segunda Leitura (Rm 8,9-11)
Todos os homens morrem. A vida
material, que o homem tem em comum com os outros seres deste mundo, não dura
para sempre, a um certo ponto ela se apaga. Jesus, sendo um homem como nós,
também teve que morrer. Ele, porém, ressuscitou.
Na leitura deste domingo Paulo diz
porquê isto aconteceu. É que ele tinha em si o espírito de Deus,
isto é, a vida de Deus em plenitude.
Paulo continua dizendo que, tendo
recebido o espírito de Jesus, nós também não podemos mais morrer. Quando chegar
o momento no qual a nossa vida se encerrará, o Espírito que ressuscitou Jesus
ressuscitará também os nossos corpos mortais (v.11) à condição que nos
oponhamos à sociedade que matou Jesus e façamos também, em nossa condição
humana, aquelas opções de vida que orientaram Jesus até o fim: seu empenho
pelos pobres a marginalizados da vida.
Evangelho (Mt 11,25-30)
Certo dia Jesus surpreendeu a todos
louvando a Deus por seu êxito com as pessoas simples da Galiléia e por seu
fracasso entre os mestres da lei, escribas e sacerdotes. “Eu te louvo, Pai...
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos
pequeninos”. Jesus está contente. “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”.
Assim te pareceu melhor. É a maneira de Deus revelar suas “coisas”. Os
“pequeninos” não são as crianças, mas aqueles que reconhecem a sua indigência
perante Deus e suspiram pela salvação.
A gente simples e ignorante, aqueles
que não tem acesso a grandes conhecimentos, os que não contam na religião do
templo, estão se abrindo a Deus com um coração limpo. Estão dispostos a
deixar-se instruir por Jesus. O Pai está revelando a eles seu amor através
dele. “Deus visitou o seu povo”, diziam. Eles entendem Jesus como ninguém.
Mas os “sábios e entendidos” não
entendem nada. Eles têm a sua própria visão erudita de Deus e da religião.
Acham que sabem tudo. Jesus não acrescenta nada à teologia deles. Sua visão
fechada e seu coração endurecido os impedem de abrir-se à novidade da revelação
de Jesus sobre Deus. Além disso, Caifás e os sacerdotes de Jerusalém viam em
Jesus um subversivo perigoso. Porque ele se preocupava tanto com os pobres e se
esquecia das exigências da religião? Essa convivência de Jesus com as classes
marginalizadas causou muito ressentimento entre os líderes da sociedade e foi
uma das causas de sua condenação.
Já os camponeses da Galiléia que viviam
defendendo-se da fome e dos grandes proprietários de terras entendiam muito bem
a Jesus: Deus queria vê-los felizes, sem fome nem opressores. Os enfermos
confiavam nele e, animados por sua fé, voltavam a crer no Deus da vida. As
mulheres que se atreviam a sair de sua casa para ouvi-lo intuíam que Deus devia
amar, como dizia Jesus, com entranhas de mãe.
Jesus termina sua oração, mas continua
pensando na “gente simples”. Essas pessoas vivem oprimidas pelos poderosos e
não encontram alívio na religião do templo. Sua vida é dura e a doutrina que os
“entendidos” lhes oferecem a fazem ainda mais dura e difícil. Os fariseus (“os
entendidos”) haviam dissecado os dez mandamentos em 635 preceitos e proibições.
Era um peso insuportável. Estavam “cansados e sobrecarregados”. Jesus lhes diz:
“o meu jugo é suave e meu peso é leve”.
Jesus reduz os dez mandamentos a dois:
amar a Deus e ao próximo e, afinal, a um só: não faças aos outros o que não
queres que te façam (é a famosa “regra de ouro” que já o chinês Confúcio propôs
aos seus discípulos) e Jesus confirma “ aí está toda a lei e os profetas” (Mt 7,12;
cf.tb Rm13,9). Referindo-se à liturgia do templo Jesus diz “é
misericórdia que eu quero e não sacrifícios”. Segundo Mt 25,
os homens, de qualquer raça ou religião, serão julgados não pelas práticas
religiosas mas pelas obras de misericórdia.
“Aprendei de mim que sou manso e
humilde de coração” (v.29). Dizendo “Aprendei de mim” Jesus quer dizer
simplesmente: não sigais aqueles mestres que se fazem senhores das vossas
consciências, que vos anunciam um Deus que não gosta de pobres e vos ensinam
uma religião que tira a alegria de viver com exigências mesquinhas e absurdas.
Em seguida Jesus se apresenta como
“manso e humilde de coração”. Nada a ver com tímidos, sossegados ou passivos.
São os pobres e oprimidos, aqueles que sofrem injustiças, mas que
não reagem com violência. Pois bem, para todos os pobres da terra Jesus diz:
escutai-me, acreditai em mim, porque eu estou do vosso lado, sou alguém como
vós, também sou pobre e rejeitado!
Santo Agostinho declarou um dia: “Os
pobres são os nossos mestres”. Esta frase do grande doutor da Igreja é, sem
dúvida, uma chamada de atenção para todos nós sacerdotes, moralistas e
entendidos em religião. Nós corremos o risco de racionalizar, teorizar e
“complicar” demasiadamente a fé. Porque será que há tanta distância entre nossa
palavra e a vida real das pessoas? Porque nossa mensagem quase sempre é mais
obscura e complicada do que a de Jesus?
Em minha vida de já 48 anos de
sacerdote aprendi muito com os pobres. Aprendi a dizer a minha teologia
universitária numa linguagem simples e acessível. Com eles aprendi
também, entre muitas outras coisas, que para ser feliz basta muito pouco:
“pouco com Deus é muito, muito sem Deus é pouco”...
Em mais de uma ocasião pude comprovar
que não basta falar de Deus para despertar a fé. Para muita gente certos
conceitos religiosos estão muito gastos e abstratos e já não dizem nada para a
vida real. No entanto, encontrei-me com pessoas simples que parecem não
necessitar de grandes idéias nem de raciocínios. Intuem logo que Deus é “um
Deus oculto”, e de seu coração nasce espontânea uma invocação: “Senhor,
mostra-me teu rosto”.
Encontrei-me também com pessoas que se
movem sempre no terreno do útil. Algumas abandonam a Deus porque Ele lhes é
inteiramente inútil; outras o retêm e lhe prestam culto porque lhes é útil. Mas
também pude conhecer pessoas simples que vivem dando graças a Deus. Desfrutam
do bom da vida, suportam com paciência os males; sabem viver e fazer viver. Não
sei como o conseguem, mas de seu coração parece estar sempre brotando o louvor
ao Criador. Sua vida é um acerto.
Num retiro querigmático pude constatar
a alegria e a gratidão de pessoas diante de um texto como o de Isaías: “Eu sou
o Senhor, teu Deus...já que contas muito para mim, me és caro e eu te amo...
Não tenhas medo, pois estou contigo!” (Is 43,4), ou diante do salmo 103,13-14:
“Como um pai ama seus filhos com ternura, assim o Senhor se enternece por
aqueles que o temem, pois Ele sabe de que somos feitos, lembra-se de que somos
pó”. Sim, Deus se revela às pessoas simples.
Parabéns padre José! Que toda leitura e reflexão nos ajude a ver e conservar o amor e a admiração pela sabedoria dessas "pessoas simples que vivem dando graças a Deus. Desfrutam do bom da vida, suportam com paciência os males; sabem viver e fazer viver". Belíssima reflexão!!!
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